Quando era criança, me encantei com o universo de trevas: Vampiro: A Máscara, Lobisomem: Apocalipse, Magos. Enquanto muitos curtiam o clássio D&D, eu me apaixonei pela forma como o grande mestre Angelos ministrava nossas sessões, onde, muitas vezes, o que mais nos divertia eram as interpretações, as piadas e, claro, as histórias criadas.
Sei que joguei há muito tempo e talvez não me lembre de muitas sessões, mas uma que me recordo bem foi nossa última sessão, onde joguei como Malkaviano. Pela primeira vez, interpretei um personagem com quem talvez mais me identifiquei, afinal, a loucura vem de berço.
Não sei se você está familiarizado com esse universo ou mesmo se conhece RPG, mas, para contextualizar, os Malkavianos traçam suas origens até Malkav, um dos Antediluvianos, considerado o fundador do clã. Malkav é uma figura envolta em mistério e loucura, e essa herança foi transmitida a todos os membros do clã. Diz-se que Malkav foi amaldiçoado ou abençoado com uma visão profética ou uma forma de loucura que o clã ainda carrega.
Cada membro do clã Malkaviano sofre de algum tipo de desordem mental. Essa loucura não é apenas uma característica superficial, mas parte essencial de sua existência. A natureza e a intensidade da loucura variam de um vampiro para outro, podendo incluir delírios, paranoia, depressão, esquizofrenia ou outros transtornos. No entanto, essa loucura muitas vezes concede aos Malkavianos uma percepção única do mundo, permitindo-lhes enxergar além das aparências e acessar verdades ocultas.
E a parte com a qual me identifico é exatamente essa percepção única do mundo, que me permite ver detalhes que muitas vezes podem ser imperceptíveis. Assim como para os Malkavianos, isso pode ser uma maldição ou uma dádiva; para mim, acaba sendo a mesma coisa, pois ver coisas que talvez estejam apenas na minha mente ou tentar resolver problemas que não precisam de solução, identificar expressões e trejeitos e determinar perfis, justificar ações duvidosas ao olhar o outro lado da história.
Tudo isso passa em milésimos de segundo na minha mente, mas, às vezes, pode parecer uma dádiva pensar em coisas que outras pessoas talvez não pensariam, chegando a soluções de problemas 2 a 3 vezes mais rápido, podendo pensar de forma polímata.
Muitas vezes, na minha trajetória, eu não entendia por que gostava de variar meu conhecimento. Aprendi a desenhar, depois a programar, depois música, marketing, e hoje a escrita. Mesmo sabendo que ter vários conhecimentos em diferentes áreas tem um nome, polímata, ainda está enraizada em nossas mentes a ideia de que quem faz de tudo não sabe o que quer ou é preguiçoso. Isso nos leva à questão de que seria errado buscar conhecimento para ser um generalista, e o certo seria se tornar um especialista, uma pessoa que sabe tudo, mas de uma única coisa.
Não sei dizer o que é certo ou errado, mas, a cada dia, busco entender como me aceitar, seja sendo um especialista em ser generalista ou um generalista em ser especialista. A verdade é que não existe uma regra para o certo ou o errado, pois isso pode ser uma questão de perspectiva. Afinal, toda história com um protagonista e um antagonista tem três lados diferentes: o de cada personagem e o do narrador.
Sendo assim, considero que precisamos enxergar além das aparências e dos rótulos, ter empatia e tentar nos entender antes de entender o próximo. Não ter medo de se especializar em uma única área ou em múltiplas áreas é saber que, por mais que você se especialize ou se generalize, sempre haverá algo novo para aprender. Afinal, estamos em constante evolução e tudo muda ao longo da jornada.